Nicki não se encontrava em casa quando houve o telefonema. Sua colega de apartamento estava excitada demais para apresentar um relatório coerente. Ela não tinha muita certeza do lugar em que o Sr. Wolfe vira Nicki atuar: se na peça da temporada de verão, na aparição de dois minutos em Gypsy ou no comercial de televisão para um aspirador. Mas que diferença isso podia fazer? Nicki deveria apresentar-se no Broadhurst Theatre, às 4 em ponto, se quisesse ter uma audiência. Nicki ficou tão excitada que saiu da pensão sem nem mesmo passar um pente pelos cabelos louros emaranhados. Percorreu a pé os 13 quarteirões até o teatro, não querendo permitir-se a indulgência de um táxi. Poderia conseguir um lugar na peça, é certo, mas o elenco vinha sendo escolhido há mais de um mês e agora só deveriam restar os papéis secundários.
Havia apenas cinco pessoas no palco quando Nicki chegou. Quatro mal a olharam quando ela avançou, hesitante, até a frente do palco. O quinto, um homem de aparência ainda jovem, o rosto ossudo, vestindo um pulôver, aproximou-se dela, sorrindo. Nicki sabia que era Wolfe, o diretor, importado de um teatro dos subúrbios, em sua estréia na Broadway, com uma nova comédia.
— Eu a conheço — disse ele. — Você é Nicki Porter. Obrigado por ter vindo.
— Eu é que lhe agradeço — disse Nicki tímida, usando sua voz rouca e sonora.
Nicki não era extraordinariamente bonita nem mesmo provocantemente comum. A sua melhor característica era a voz.