sexta-feira, 22 de junho de 2018

A Mão


O som da chuva me dava vontade de fazer xixi. Eu estava rolando na cama desde a meia-noite, inquieta após haver assistido a um filme de terror. Maldita sexta-feira treze e estas sessões intermináveis de monstros e cadáveres na TV!

Mal me segurando, desenrolei-me dos lençóis e pousei os pés nus no carpete do quarto.

Foi quando o inusitado ocorreu. Não foi como se me segurassem, ou como se me apertassem, foi apenas um toque, um resvalo no meu calcanhar, vindo de sob a cama. Tenho certeza de que não era fruto da minha imaginação, a sensação foi clara o suficiente para evitar qualquer dúvida: uma mão, de sob minha cama, havia tocado meu pé.

Gritei, saltando assim como quando, na praia, ondas geladas deslizam na altura das nossas canelas, e instintivamente olhei para a fonte do meu desespero. Nada havia.

Corri para o banheiro, pois o susto aumentou ainda mais meu apuro.

O Cãozinho


O filhotinho veio dentro duma caixa, as crianças pulavam de alegria.

— Você comprou, mãe! Obrigado!

Mas Susana deixou bem claro aos filhos:

— São vocês que vão cuidar dele.

Batizaram o cãozinho de Lúcio, um vira-lata preto. Lúcio era carinhoso, lambia as orelhas dos meninos, corria trôpego pela sala.

Crescia, e foi aí que começaram os problemas. O temperamento de Lúcio mudava, já não era mais tão carinhoso, latia o dia inteiro e rosnava para as visitas. Um dia, mordeu a mão de Susana quando ela tentava tirar um osso de galinha da boca dele.

As crianças o defendiam:


O Filho Morto


Quando Luiz morreu, minha esposa ficou em choque por dias. Talvez eu não tenha sido tão afetado quanto ela pelo simples fato que, quando algo como isto ocorre, alguém tem de manter o equilíbrio. Se todos desabam, que rumo resta a ser tomado? Ou talvez eu apenas não tivesse assimilado a desgraça, fingindo que tudo continuava como antes.

À noite, enquanto Tatiana permanecia no quarto, sedada, eu me levantava e ia até o quarto de Luiz, ler histórias para ele dormir. Apesar da cama vazia, eu tinha a plena sensação de que ele estava ali, rindo das fábulas, as pálpebras pesadas, lutando contra o sono.

A culpa que Tatiana alimentava não era de todo infundada, Luiz estava com ela quando tudo ocorreu, cruzavam a rua, o sinal aberto para os carros, mas Tatiana jura que não havia perigo. Luiz deixou cair a chupeta, sua mãozinha se soltou da de Tatiana, e ele voltou para buscá-la.